quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Verborragia (ou simplesmente logorréia)

ver.bor.ra.gi.a
sf (verbo+ragia) pej Qualidade de quem fala ou discute com grande fluência e abundância de palavras, mas com poucas idéias; logorréia.

lo.gor.réi.a

  1. (Uso: pejorativo) profusão de frases sem sentido e/ou inúteis
  2. (psicopatologiacompulsão para falarloquacidade exagerada que se nota em determinados casos de neurose e psicose, como se o paciente, assim, quisesse dar vazão ao grande número de idéias que passam por sua cabeça; logomaniaverborragia

Um dia me disseram que ninguém é 100% são, mesmo psicológicamente falando. Mas dizem muita bobagem por aí. A verdade é que a profusão de idéias aparentemente cognicíveis e formadoras de uma verdade idealista sempre me incomodou. Talvez eu mesmo seja vítima da psicopatologia conhecida como logorréia, (no sentido clínico, jamais no sentido pejorativo) mas meu esforço é em razão de isolar a idiotice da aparência vazia do meu cotidiano e procurar sentido nas coisas que faço, penso e, principalmente, sinto. A campanha histórica da dissolução do pensar com o sentir, é a grande responsável pelo sofrimento cinematográfico e muitas vezes patológico das novas gerações, acostumadas a repetir e somatizar comportamentos padronizados por novelas, big brothers, "soap operas" e etc. As pessoas sofrem sem saber por quê, e aprendem a aceitar que o sentimento é simplesmente desprovido de qualquer razão, que estamos fadados a um destino obscuro e que estamos atados frente a um emaranhado de possibilidades imprevisíveis que decidirão nosso futuro de forma implacável e coercitiva. Deceparam-nos o direito à escolha e condicionaram as nossas escolhas sempre àquelas que podem ser aceitas sob a ótica da sociedade de consumo. Não estou dizendo que se pode escolher o que sentir, muito pelo contrário, não se pode. O que se pode é escolher o que pensar, e principalmente, escolher pensar. Não compreender os reflexos da sociedade na nossa personalidade antes de se afogar num mar de certezas ideais e aceitar os comportamentos padronizados e felicidades enlatadas certamente te levará, em algum ponto, a um conflito interno insolúvel, visto que consumir relacionamentos é simples como consumir produtos: tem sempre de trazer ao indivíduo um ganho ou status social aceitável no meio. Quando não é mais eficaz em produzir esse efeito, perde o sentido. Daí as eternas incertezas, traições, inseguranças, ciúmes e outras doenças. Não existe caminho para a felicidade, mesmo porque esta é um fenômeno pendular, que de tempos em tempos vem e depois se vai. O esforço, então, fica por conta de pensar o mundo com nossas próprias cabeças e questionar sempre o óbvio. Isso não é a receita do sucesso (esta você pode encontrar no "Monge e o Executivo", "Quem mexeu no meu queijo" e outras maravilhas da literatura moderna), mas o meio de se tornar e se sentir único, agente da construção e da formação de um mundo onde a escolha possa voltar a existir livre, desprovida de interesses sociais de um pequeno grupo que insiste em nos convencer que as relações humanas também podem ser comercializadas. 

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