quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Saudades de uma infância verdadeiramente feliz!

Assisti a um vídeo hoje no famigerado youtube, com o singelo título de "Saudades de uma infância verdadeiramente feliz". Curioso que sou, perdi alguns minutos da minha vida não muito atribulada assistindo a uma avalanche de imagens de brinquedos, chocolates, desenhos animados entre outras quinquilharias que marcaram a minha infância, tudo isso com o melancólico e agradável som do Balão Mágico ao fundo. Não é, definitivamente, a primeira vez que me deparo com artifícios saudosistas dessa natureza, e parece-me uma unanimidade entre a minha geração venerar os artigos de massa que faliram no passado, ao longo das décadas de 80 e 90. Honestamente, não consigo diferenciar a alegria que Changeman me trouxe do prazer que os atuais Power Rangers ou coisa que o valha trazem às crianças de hoje. O que eu espero, sinceramente, é que as próximas gerações possam se lembrar mais das brincadeiras e amizades, essas sim verdadeiras, construídas durante uma infância mais humana que a que fui submetido. Sim, a minha geração já faz parte da onda de ampliação de mercado que encontrou no púbico infantil uma reserva espetacularmente tentadora. As crianças são muito mais volúveis ao argumento do consumo que os adultos. Não nos bastava mais vários vizinhos e uma bola, ou uma boneca de pano para as meninas brincarem umas com as outras. Desde há muito o consumo é nosso meio de realização. São vídeo games cada dia mais modernos, desenhos animados que só são acessíveis pela TV a cabo, doces e balas sofisticadas, CD's de bandas de sucesso e etc. Os que não têm condições de consumir automaticamente se excluem do ciclo do crescimento "saudável". Seria a nossa infância infeliz sem o Super Nintendo ou o Guaraná Brahma? Nossas manhãs mais tristes porque a Xuxa não apresentou seu programa? Talvez a falta de Lolo e Batom no baleiro da escola fosse nos deprimir profundamente, não? Aonde está a identidade da infância nisso tudo? Não está, de maneira nenhuma, embutida nos produtos que nos remetem àquele tempo, e sim na lembrança de uma época em que estávamos aptos a participar do circo consumista sem nos preocupar de onde vinha a grana, de uma época onde se incluir era mais simples e que nossa responsabilidade era nula. Quais os grandes traumas da infância de uma criança de classe média? A falta de um brinquedo que os pais não puderam comprar, ou o desenho que nunca puderam assistir, e os doces que não podiam consumir, certo? Com todo o esforço de nossos pais de nos manter na bolha que isola a realidade crua dos olhos da criança, nos acostumamos a encontrar no consumo a felicidade plena. Quem se importa se já é raro manter amigos de infância, se podemos nos lembrar com saudades dos produtos que um dia possuímos? E as pessoas? Essas não vão ser encontradas em vídeos no youtube, em e-mail bem confeccionados em flash ou power point. Talvez um dia se tornem novamente mais uma cara no orkut, entre milhões de desconhecidos que te fazem uma pessoa popular, com 700 amigos! Até quando as pessoas estarão relegadas a segundo plano na imaginação das outras? Não quero mais me lembrar do He-man, mas dos dias raros em que fechávamos a rua, com duas pedras de cada lado, e entre amigos e desconhecidos, o dia passava agradável numa descontraída partida de futebol em que não se importavam as unhas ou o placar, simplesmente o prazer de se relacionar com outros seres humanos...

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