Na maioria das vezes, os grandes problemas de comunicação não se devem à grande variedade de respostas vazias e infundadas, ao idealismo generalizado que doutrina o "achismo" como método principal de fundamentação de verdades, aonde o sujeito em si, atribui valor ao seu próprio argumento, por sua posição social ou pelo valor do argumento verborrágico (agora sim pejorativamente falando) na manutenção do ciclo social; se devem, principalmente, à elaboração das perguntas erradas. Uma coisa que me intriga muito hoje em dia é uma pergunta muito recorrente entre o meio "politizado" da população: "Como fazer inclusão social?". Existem infinitas possibilidades de se responder a essa pergunta, todas elas controversas, algumas bem fundadas e outros meros falatórios descabidos e oportunistas. O problema é que essa não é a pergunta certa a ser feita. A pergunta é: "Em qual sociedade queremos incluir nossos cidadãos?". Aí sim podemos pensar em inclusão social de forma estrutural e não simplesmente efêmera. O problema da primeira pergunta é que ela traz em si a afirmação implícita de que é necessário incluir pessoas no nosso modelo de sociedade de consumo. O que essa pergunta realmente quer dizer é: "Como aumentar o mercado consumidor e gerar bem-estar social?". Elaborar as perguntas certas é de longe a parte mais complicada do pensamento científico. A estruturação de um bom argumento passa, primordialmente, pela elaboração de uma questão que tenha relevância do ponto de vista material, que proponha o conhecimento através da análise dialética dos fatos históricos que criaram o problema que deve ser solucionado. Há algum tempo fico muito mais feliz quando encontro as perguntas certas do que quando encontro as respostas, que nada mais são que verdades válidas em determinado período de tempo. Enfim, este texto não se propõe a discutir a validade de um ou outro método científico e muito menos dismistificar um ou outro aspecto pontual da massificação do pensamento que estamos há tanto tempo atravessando, aonde as pessoas estão talhadas do direito de pensar, mas pura e simplesmente propor uma pergunta, sem qualquer pretensão imediata de resposta: Quem somos nós? Qual seria o nosso papel na marcha da história? Qual o valor da nossa individualidade em um mundo em que as superestruturas econômicas ditam o que vestimos, pensamos, comemos, gostamos, criamos e perseguimos? Essas são perguntas ótimas, mas creio que a chave disso tudo é descobrir qual é a ciência capaz de nos levar a essas respostas. Seria a sociologia a fonte da compreensão do comportamento social individual de cada um de nós, ou a psicologia a detentora do direito de relacionar nossas atitudes ao subconsciente, independente do impacto que as estruturas sociais causam na criação de grandes massas de valores homogêneos, e, portanto, capaz de individualizar o racionalismo de cada um?
Trata-se, entretanto, num esforço de se pensar a psicologia, o individualismo freudiano, típico da ideologia burguesa, em bases universais, acrescentando à individualidade a influência definitiva das estruturas socioeconômicas. Deixando de lado argumentos técnicos, é impossível descobrir quem somos sem levarmos em conta o papel determinante da cultura da nossa sociedade, que determina de forma categórica nossas vontades, desejos e sentimentos. Do outro lado, a independência intelectual da qual todos somos dotados há de ser o meio para que possamos encontrar de forma individual quais são nossos verdadeiros (leia-se não-ideológicos) anseios socias, aí compreendidas as relações humanas, principalmente, e possamos, enfim, nos livrar das nossas próprias amarras, que nada mais são que limitações de moral íntima criadas por influência externa.
"A psicologia não detém, de forma nenhuma, o 'segredo'
dos factos humanos, pura e simplesmente porque esse 'segredo'
não é de ordem psicológica."
Georges Politzer: La crise de la psychologie contemporaine.
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