Como marxista devo admitir que as estruturas econômicas são determinantes nas formação das estruturas sociais, que por sua vez derramam ideologia por todas as partes. Entretanto, a razão da qual é dotada o ser humano nos permite, em determinadas ocasiões, a escolha. Mesmo incluído em um meio absurdamente alienado e conformista, diria até reacionário, tive em algum momento da minha vida a opção de pensar. Não sei exatamente quando isso se deu e como foi o ocorrido, mas essa escolha me transformou em alguém completamente distinto das pessoas do meu meio social. Longe de mim dizer que estou certo ou errado, que sou mais ou menos inteligente ou culto que qualquer pessoa que me cerca, mas, certamente, meus olhos veem o mundo de forma diferente. Não me é mais possível enxergar os fenômenos interpessoais como "naturais" ou "adequados". A cada simples gesto de interação, seja ele simplesmente uma conversa entre duas pessoas ou uma notícia de telejornal, minha mente busca de forma implacável a razão ideológica da abordagem e do conteúdo. Talvez por isso as únicas coisas que costumo tolerar na televisão são comédias de situação e alguns raros filmes policiais ou dramáticos. Futebol também me atrai, desde que seja sem áudio, para me poupar da venacidade dos narradores e comentarista a serviço do entretenimento alienante. Por diversas vezes imaginei que seria melhor que minha escolha pela verdade não tivesse ocorrido. Por certo sofreria muito menos, não haveria em mim a necessidade de encontrar alguém como eu, alguém que eu imagine valer a pena me esforçar em compartilhar parte ou toda a minha vida. Meninas e mulheres lindas e vazias parecem brotar das ruas de Belo Horizonte. Quisera eu enxergar a beleza até o limite dos olhos, como já fiz por vezes. Fui vencido pela ideologia a qual não pude me render. Escolhi o mundo fora da bolha da superficialidade, e, de veras, não existem muitas pessoas com as quais se relacionar desse lado. E por mais que saiba que as chances de encontrar o amor além da superficialidade das relações capitalistas, contruído com respeito e admiração mútuos, livre por escolha e verdadeiro por definição, não me arrependo por um minuto de ter escolhido em algum momento pensar o mundo (e transformá-lo) por mim mesmo, sem aceitar as verdades impostas pela ideologia dominante. Apesar de saber que o caminho que escolhi é o mais árduo, em nenhum momento da minha vida tive dúvidas que é o correto. E se mais tarde se provar inepta minha busca pelo amor, o que importa? Me vale mais mil sonhos de um amor verdadeiro que mil anos de um amor irreal.
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Um comentário:
"...Me vale mais mil sonhos de um amor verdadeiro que mil anos de um amor irreal."
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