O tempo passa e as coisas insistem em mudar. Cada segundo, por mais monótono que seja, proporciona à existência a possibilidade da transformação. Alguns segundos, claro, são mais importantes para uns que para outros. Alguns momentos ficam guardados, outros esquecidos, mas a mudança é constante. Eis que na grécia realmente se pensava: um homem realmente não se banha duas duas vezes no mesmo rio. E aonde fica a essência? O que realmente somos? A minha resposta, talvez severa, é que em essência somos uma sequência completa de transformações, em que absolutamente tudo é passível de mudança. Talvez se pense que tal afirmação seja triste, afinal, se não temos valores essenciais, se não somos algo definível, desperta-se, num primeiro momento, uma ideia de vazio, de fragilidade, de inexistência concreta. Enganam-se os que assim pensam. É a face mais bela da existência: a delícia de crescer, de se transformar, de se tornar melhor sempre, de aprender, a capacidade irrestrita de a cada segundo conhecer o mundo de uma forma diferente, de se recriar. É a possibilidade da eternidade, mesmo limitada pelo tempo, pelo curto ciclo da vida. Que triste seria ser Deus, incapaz de se tornar melhor, inapto a aprender, a errar... Que perfeição divina é essa que exclui do seu rol de qualidades a mais apaixonante de todas, que é a metamorfose? Não, obrigado. Me recuso a venerar alguém que se quer pode mudar de ideia. Não me julguem mal, aqueles que acreditam que existem pessoas boas e más, elas podem sim, existir, mas não por essência. São ações e reações psico-sociológicas que formam e solidificam ao longo do tempo a personalidade das pessoas. Mas como diria Marx, tudo que é sólido se desmancha no ar. As coisas mudam, as pessoas mudam, as ideias mudam e até os sentimentos mudam. Não quero dizer que se desfazem, muito pelo contrário, o desafio é sempre acrescentar, crescer, descartar o que se descobriu errado e agregar o novo até então inequívoco. Algumas pessoas terão o prazer de aproveitar essa curta oportunidade que temos nessa vida, outras se acomodarão e permanecerão quase imutáveis, ignorando a única coisa com que realmente nascemos dotados: o lívre-arbítrio, a fenomenal faculdade de sermos quem queremos ser. A estas não deixo meus sentimentos, não contribuem com nada nesses mundo, só com o aumento das tristezas coletivas e individuais. Às outras, meu muito obrigado, realmente vou precisar de ajuda nessa guerra contra o continuísmo. Revolucionários de todos os países, uni-vos!
Borboletas
Butterflies: Yesterday, she left. Tucked away a couple dreams into the old backpack, tidied up her blouse inside her trousers and left. My eyes, hanged on the edge, with the foolish hope that she would turn back and decide to stay, at least for one or two more forevers. But she did not, left only a smile in my eyes and went away. From each step, each mark plunged into he floor, a blue flower grew joyous and i could see where she was, revealed through the butterflies. Yes, because the flowers - what a trick - were not blue petals, were wings of butterflies that, in a dash, flew all back to the sky, like thousands of gas baloons, inaugurating the deep between us. And because the love still warm in the chest, the tears sticked in the face, like candle drops, hardened. Butterflies.
Rita Apoena
(Livre tradução)
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