quarta-feira, 22 de abril de 2009

Considerações sobre a fidelidade



Depois de ler vários absurdos na internet, escutar (as vezes calado e perplexo) a propagação indiscriminada de teorias mirabolantes que visam justificar a infidelidade como comportamento aceitável e até mesmo saudável e importante em relacionamentos adultos, resolvi tecer algumas considerações pessoais sobre o tema. Mais estranho é como eu ainda consigo me estarrecer perante os absurdos cada vez mais constantes que tomam conta da nossa sociedade atualmente. Me entristece ainda saber como o capitalismo conseguiu mercantilizar o sexo e o amor a ponto de equipará-los a coisas extremamente banais como uma roupa ou um carro, ou outro objeto de consumo rápido e pronto. Nada mais atraente ao consumidor que a pseudo-liberdade de se relacionar com quantas pessoas lhe despertem o desejo, podendo assim se afirmar como um consumidor de alto nível, de várias posses. O homem que trai se sente capaz, dotado do poder de consumir quantas mulheres sejam necessárias a lhe alçar a condição de super-homem frente ao seu ciclo de amigos consumistas também. A mulher, iludida pela ideia de igualdade de direitos, acredita se afirmar com a mesma prática. Se sente mais desejada e mais liberada quando se atira a relacionamentos extra-conjugais. E traem-se uns aos outros, na reprodução indefinida do nada, da abstinência sentimental em troca do consumo efêmero, hedonista, imediato de outro nada, do sexo casual. Seria fácil definir a infidelidade como falha de caráter, pois o é! Mas vale fazer uma análise um pouco mais profunda, mesmo que ainda não muito. Evidentemente fidelidade e amor são coisas distintas, pois o vínculo de exclusividade não condiciona ao vínculo afetivo e vice-versa. De onde eu vejo, a questão passa pela total perda de respeito pelo outro, pelo individualismo exacerbado, pela concorrência selvagem, pela busca incessante de ser melhor que o outro, de encontrar a felicidade somente na competição. É a sociedade de valores novos, ou da ausência de valores, aonde a única regra é lucrar a qualquer custo, é ter vantagem sempre, é vencer... Não defendo de forma alguma a monogamia por ela mesma, afinal, nada se explica por si mesmo. O que defendo é a honestidade com quem se gosta, de respeitar a própria decisão de ser exclusivo. Ninguém se obriga a isso, é mero ato de vontade. Por isso, infidelidade não é ato de desamor, de forma alguma. É ato de desrespeito, de total desprezo pelo outro, de insegurança e impotência, daqueles que jamais se realizarão como pessoas porque jamais saberão o que é compartilhar, se doar, pelo simples fato de gostar, de respeitar, de admirar alguém. O melhor de tudo isso que a decisão pela fidelidade (que não deveria sequer ser uma decisão) é unilateral. Não depende do outro, é ato puramente pessoal de caráter. Não se é fiel esperando fidelidade, mas porque se julga certo, porque é traço de personalidade. É algo que não existe dentro da esfera vazia em que existe a nossa civilização. Só faz sentido para os que sabem que o mundo é um pouco mais que o consumo.

11 comentários:

Enusia Thebas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

certíssimo. amar hj em dia é investir energia em alguém sem garantias lucrativas, caso o ser "amado" nao corresponda às expectativas do mercado e resolva aderir às flutuaçoes de valores. viramos todos mercadoria. isso se reflete tb nos atributos q as pessoas devem mostrar p/ ser atraentes. é como ler os ingredientes ou a fórmula em algum rótulo no mercado antes de comprar o produto. Sem falar q é preciso ter conhecimento de markenting p/ saber se vender, né? a propaganda é a alma do negócio.
Pois é, acho q p/ arranjar um namorado, vou ter q estudar economia...
Muito bom o seu texto, bom saber q ainda há gente no mundo q reflete sobre o assunto.

Anônimo disse...

Dudu, atualize o seu blog!!!

Unknown disse...

caramba!! descobrir seu blog hoje, por acaso, foi mto bom.. tenho pensado e lidado com essas questões demais na vida, mas nos ultimos dias o que pensei e vivi não teria sido tão bem explicado por mim.. penso exatamente como vc... sem tirar nem por.. É foda, hoje é o que tenho pra dizer..
vou encaminhar o link do seu texto pra muita gente.. as pessoas precisam abrir a cabeça, e o coração.
abraços..
apoetisa22.blogspot.com

Manuela disse...

adooorei!!!

Clecia Cardoso disse...

... liberdade? o que as pessoas sabem sobre isso? pergunte a qualquer pessoa na rua aleatoriamente, pergunte a ela onde ela se sente livre? as produção das respostas geram um certo conflito interno, mas que logo é esquecido e este ser entra novamente na fila dos alienados... quando li seu texto lembrei que as pessoas não conseguem fazer o que realmentem sentem, suas ações não são intensas e puras, mas sempre maquiadas, buscando aceitação do grupo social... é triste mas encontrar alguem que seja fiel pelo simples desejo de ser é raro.
abraços.
PS: gostei do texto =)

Bruno Freire disse...

Estou admirado. É fácil falar sobre sofre fidelidade ou sua controvérsia, utilizando-se de ditados meramente populares. Mas senti honestidade e, principalmente, caráter nas palavras. Pois você colocou um ponto que poucos têm coragem o bastante para aceitar: fidelidade é unilateral, é traço de personalidade. Parabéns pelo texto. Com sua permissão, pretendo citar trechos do mesmo em um futuro post no meu blog. Dando os devidos créditos a você, é claro.

danielamendes disse...

Posso te dizer que adorei o seu texto?? Se vc meder autorização gostaria de po-lo no meu orkut, claro que com os devidos créditos. Me avise se autoriza meu e-mail é danielamendes@hotmail.com.
Abraços
Daniela

Dudu disse...

Bruno Freire e Daniela Mendes:

Estão absolutamente autorizados a divulgar da forma que acharem razoável, desde com os devidos créditos.

Obrigado pelo apoio.

Ana Ferreira disse...

Amei o texto!

Bjs

Danielle Leão disse...

Acabei de ler a descrição dos meus pensamentos... Perfeita a forma que você escreveu, concordo em gênero,número e grau. Parabéns!